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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

VOCÊ CONHECE O PROTESTANTISMO? - PARTE 2 - LUTERANISMO

Nessa semana publicaremos um texto sobre cada uma das 9 famílias denominacionais do Protestantismo. Trataremos hoje do Luteranismo, o grupo protestante herdeiro da teologia do próprio Martinho Lutero.

I - HISTÓRIA

O Luteranismo se desenvolveu a partir da Reforma, iniciada em 1517, quando Martinho Lutero pregou as 95 Teses na porta do Castelo de Wittenberg, acusando os erros e desvios teológicos da Igreja Romana e a venda de indulgências.

Todavia, foi apenas em 1521, na Dieta de Worms, que a separação do Catolicismo Romano foi confirmada, quando Lutero não negou as doutrinas pregadas.

Na Dieta Lutero declarou:
"A não ser que eu esteja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pela razão clara (pois não confio nem no papa ou em concílios por si sós, pois é bem sabido que eles frequentemente erraram e se contradisseram) sou obrigado pelas Escrituras que citei e minha consciência é prisioneira da palavra de Deus. Não posso e não irei renegar nada, pois não é nem seguro e nem correto agir contra a consciência. Que Deus me ajude. Amém."

Com o desenvolvimento da Reforma surgiram outros reformadores contemporâneos de Lutero em outros países, como Zwinglío. Após tentativas de acordo entre eles sobre as doutrinas cristãs, Lutero entendeu que não seria possível uma união entre todos os protestantes, sobretudo por conta da doutrina da Eucaristia.

Assim, os luteranos seguiram como grupo distinto dos demais que emergiram na Reforma Protestante.

Após se espalhar pelo norte do que hoje é a Alemanha, o Luteranismo chegou as terras que atualmente pertencem a Suécia, Dinamarca, Islândia, Noruega, Finlândia, Estônia e Letônia.

A partir da emigração para outros países e missões luteranas ao decorrer dos séculos, o Luteranismo tornou-se também a religião majoritária nos Estados de Dakota do Norte e Dakota do Sul, nos Estados Unidos, bem como na Namíbia, no sul do continente africano.

Os luteranos também cresceram em vários países da África como Tanzânia, Quênia, Madagascar e Nigéria. Na Ásia destaca-se a Indonésia e a Índia, com forte presença luterana.
Na América do Sul, o Brasil se destaca pela presença luterana, sobretudo na região sul, formada em grande parte por descendentes de imigrantes alemães.

II - DOUTRINAS

Os luteranos originalmente defendiam 3 Solas, como fundamentos doutrinários. Sola Scriptura (somente a Escritura é única regra de fé e prática), Sola Gratia (salvação somente pela graça de Deus) e Sola Fide (justificação pela fé somente). As conhecidas 5 Solas são desenvolvimento posterior, afirmadas sobretudo pelos cristãos reformados.

Como documento doutrinário a confissão luterana amplamente aceita é a Confissão de Augsburgo. Todavia, o Livro de Concórdia foi estabelecido posteriormente como expressão mais completa da fé luterana.

Destaca-se na teologia luterana a doutrina dos sacramentos. Os luteranos crêem que os sacramentos estão relacionados a Palavra, de forma que os elementos dos sacramentos são meios de graça.

Diferente da maioria dos protestantes, os luteranos crêem em regeneração batismal, ou seja, que no ato do batismo a pessoa batizada é regenerada, quando a maioria dos demais protestantes crêem que regeneração ocorre tão somente no momento em que a pessoa crê no Evangelho, sendo o batismo um símbolo da aliança com Deus e esse novo nascimento.

Outra diferença entre luteranos e demais protestantes é a doutrina da Eucaristia (Ceia do Senhor). Os luteranos negam a transubstanciação (transformação da substância dos elementos da Ceia em corpo e sangue de Cristo) pregada pelos católicos romanos. Ainda assim, crêem que Cristo está de alguma forma presente nos elementos da Eucaristia, não apenas espiritualmente (como crêem os calvinistas), de forma que a Ceia também não é apenas um memorial da morte de Cristo (como crêem os zwinglianos).

Os luteranos são monergitas, ou seja, não crêem no livre-arbítrio humano após a queda, considerando a salvação uma obra exclusiva de Deus, sem contribuição do homem.

Os luteranos crêem na predestinação e eleição de Deus dos salvos de forma incondicional, todavia, suas crenças divergem de calvinistas.

O Luteranismo prega a expiação de Cristo como feita por todos os homens, mas os homens podem perder a salvação pela incredulidade.

Luteranos acreditam que a condenação dos homens ao inferno é culpa deles mesmos, e não ato da escolha divina, considerando apenas a predestinação para a salvação e não condenação.

A escatologia luterana é majoritariamente amilenista e sua forma de batismo é pela aspersão e pedobatista. O sistema de governo das igrejas luteranas varia conforme o país.
As igrejas brasileiras têm um sistema de governo parecido com o presbiteriano. Algumas denominações luteranas nos Estados Unidos são congregacionais e no norte da Europa os luteranos são episcopais.

Outra diferença dos  luteranos dos demais protestantes é a divisão dos 10 mandamentos da mesma forma que os católicos romanos. Além disso, não consideram errado a confecção de imagens de Cristo, como vários outros grupos protestantes afirmam.

Outra proximidade maior do Catolicismo Romano é o culto litúrgico, que tem mais semelhanças com a missa do que o culto de grande parte das igrejas protestantes.

Assim, o Luteranismo é o grupo protestante mais próximo do Catolicismo Romano em doutrinas sacramentais, permissão de imagens e liturgia. Todavia, está bem próximo do Calvinismo na doutrina da salvação (explicada na parte 3).

III - LUTERANISMO NO MUNDO

Como já dito anteriormente, o Luteranismo se espalhou pelo mundo.
Existem três organizações mundiais de denominações luteranas que reúnem quase todos os luteranos.
A maior é a Federação Luterana Mundial (FLM), cujos membros são mais de 75,5 milhões de pessoas. A maioria das igrejas membro da FLM apoiam a ordenação feminina e uma grande parte a benção a casamento entre pessoas do mesmo sexo. Todavia, cada denominação luterana nacional é independente, existindo grande número de membros da FLM que se opõem a ambas as práticas.

Um grupo mais conservador é o Concelho (ou Concílio) Luterano Internacional (CLI). Esse grupo reúne denominações conservadoras, que majoritariamente se opõem a ordenação feminina e ao casamento gay. São mais de 7,15 milhões de membros, se alinhando a um Luteranismo mais confessional e conservador.

Existe ainda a Conferência Evangélica Luterana Confessional (CELC), um grupo bem menor e conservador, que reúne denominações luteranas de diversos países, mas que juntas não atingem 1 milhão de membros.

IV - LUTERANISMO NO BRASIL

Segundo o Censo do IBGE realizado em 2010, existiam 999.498 luteranos no país, mas concentrados quase exclusivamente na região Sul.

Em quase todos os Estados do Brasil os luteranos são menos de 0,1% da população. Todavia, são mais de 1% da população no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e Rondônia, onde se concentra a maior população de ascendência alemã.

Os luteranos no Brasil estão divididos entre duas denominações principais e outras menores.
As maiores denominações são a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB).

A IECLB é a maior, com 643.693 membros em 2016. Todavia, a denominação está em declínio desde 2002, quando a denominação tinha 712.316 membros.

A IECLB é teologicamente mais aberta, permite a ordenação feminina, mas ainda não não admite a celebração de casamento gay. Ela é membro da FLM e subscreve a Confissão de Augsburgo.

A IELB é teologicamente mais conservadora e membro da CLI. Se diferencia da IECLB por só permitir a celebração da Ceia com pão e vinho, proibir a ordenação feminina e subscrição ao Livro de Concórdia e não só a Confissão de Augsburgo.

Em 2017 a relatou ter 244.741 membros. A denominação apresentou crescimento constante desde sua fundação até 2011, quando teve 264.014 membros.

Todavia, entre 2012 e 2015 perdeu milhares de membros. Nos anos de 2016 e 2017 teve saldo positivo de cerca de mil novos membros por ano, revertendo a tendência de declínio (embora seja um novo crescimento de forma lenta).

Assim, pelo declínio rápido da IECLB e crescimento lento da IELB, a tendência luterana é diminuir sua representatividade no Protestantismo brasileiro nos próximos anos.

A diminuição do Luteranismo, todavia, pode ser explicada por razões demográficas. Os luteranos brasileiros são em sua maioria descendentes de imigrantes alemães e se concentram na região sul do país.
90% dos luteranos eram brancos em 2010, segundo o Censo do IBGE, enquanto na população geral 47% eram brancos.

Essa homogeneidade étnica entre os luteranos e concentração no Sul prejudica o crescimento por natalidade, já que tanto os brancos entre os grupos étnicos, tanto os sulistas entre as regiões do país, são os grupos com menor natalidade. Assim, se existe mais morte que nascimento, em qualquer população, o crescimento se torna negativo e essa é a tendência do Luteranismo pela sua identidade étnica e regional no Brasil.

V - CURIOSIDADES

Em 1415, John Huss foi condenado pelo Concílio de Constança pela sua pregação que já era focada na Bíblia e questionava a autoridade romana.
A pregação de Huss se espalhou pela Morávia, atua República Tcheca.
Após a perseguição romana o remanescente dos crentes da pregação de Huss foram chamados de hussitas e atualmente de morávios.

Quando Lutero começou a sua pregação foi acusado de repetir o ensino de John Huss. Pela similaridade do ensino de John Huss e Lutero, a Igreja Morávia tornou-se membro da Federação Luterana Mundial, unindo a tradição hussita e luterana.

VI - CONCLUSÃO

Os luteranos são um grupo protestante muito importante. Sua doutrina é, entre todos os protestantes, a mais próxima do Catolicismo Romano em alguns pontos (imagens de Cristo, liturgia, sacramentos) e mais próxima do Calvinismo (monergismo, eleição incondicional) em outros.

Os luteranos estão presentes em vários países do mundo e no Brasil são cerca de 900.000 membros. A tendência demográfica dos luteranos no Brasil é o declínio, sobretudo pela sua identidade étnica e regional.

Mundialmente muitas denominações luteranas apoiam a ordenação feminina e abençoam casamento gay, mas existem grupos conservadores que se opõem a ambas as práticas, tais como a Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB).

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