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sábado, 6 de janeiro de 2018

“O tablet é a chupeta desta geração



Uma pesquisa com crianças de 3 a 5 anos mostrou que 66% delas conseguiam
lidar com jogos de computador, 47% eram capazes de usar os smartphones, mas só
14% sabiam amarrar o próprio sapato. A criança precisa crescer, primeiro ser
criança, se tornar forte emocionalmente, para depois dominar um computador. Se
ela não sabe amarrar o próprio sapato, como vai dominar uma máquina? Isso é uma
realidade séria.

Houve uma mudança de prioridades?

Acho que as pessoas aproveitam o momento tecnológico que estamos vivendo, que
é de transformação, para fazer com que ele pareça algo totalmente positivo. Pode
ser positivo em alguns aspectos, mas não em todos. Temos que tomar cuidado.
Temos que ver como a tecnologia está sendo usada, para qual finalidade. Nessa
fase da infância, é importante a socialização, a interação.

Qual o reflexo disso nas futuras gerações?

As crianças estão se acostumando a ter as coisas muito
prontas e de maneira rápida. Isso gera crianças pouco tolerantes. Não estão
usando a capacidade que têm de pensamento e criação, por conta do uso excessivo
da tecnologia. Freud fala no princípio do prazer versus o da realidade. Quando
somos pequenos, vivemos só no princípio do prazer, queremos tudo naquele
momento, e, depois, aprendemos que a vida não é assim. Estamos formando crianças
que só querem o princípio do prazer. Não aceitam o não. Isso está ligado à
tecnologia, que dá tudo muito fácil.

A maneira como os pais lidam com a tecnologia pode influenciar o
mau uso por parte dos filhos?

Hoje, o tablet é a chupeta desta geração e o smartphone
é o novo cigarro dos adultos. Se o adulto fica sem celular, ele pira. E a
criança, infelizmente, está indo pelo mesmo caminho. É moeda de troca: “Eu te
dou o tablet para você ficar quieto”. As tecnologias estão interferindo muito no
desenvolvimento da criança. Por isso, acho completamente desnecessário levar a
tecnologia para o ambiente escolar. É um espaço onde as crianças trabalharão
habilidades como correr, pular, jogar bola. As crianças, hoje em dia, não estão
sabendo perder, porque, no jogo eletrônico, se perdem, elas começam de novo.

Privar as crianças do contato com a tecnologia não é colocá-las à
parte da realidade?

Acho que dentro da escola não há necessidade desse
contato. De 0 a 2 anos não vejo a menor necessidade, porque a criança não tem
essa demanda. A partir de 2 anos pode-se até mostrar o caminho, trazer coisas
pedagógicas ricas para o universo da criança. É importante deixar que a escola
seja um espaço onde a criança brinque. Eu sei que, em casa, ela vai ter a
tecnologia, diferentemente de 20 anos atrás. Acho que pode-se introduzir a
tecnologia, mas não dentro da escola.

Mas a escola não deve ter o papel de ensinar as crianças a usar
esses recursos de maneira saudável?

Fala-se sobre a importância de não ficar o tempo todo na
frente do computador. Não precisamos trazer o jogo eletrônico para sala de aula.
Já tive crianças que, em vez de virar a página do livro de história, ficavam
apertando, como se fosse tablet. Não sabiam manusear o livro. O mundo está muito
tecnológico, então vamos mostrar para a criança uma coisa diferente.

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